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  • A Importância da Autonomia Política e da Regulamentação Democrática no Cenário Digital

    A Importância da Autonomia Política e da Regulamentação Democrática no Cenário Digital

    As recentes mudanças no quadro diretivo da Meta, que apontam para uma possível guinada política à extrema direita, trazem à tona uma questão central para o campo democrático: a dependência das forças políticas em relação às grandes corporações de comunicação digital, as chamadas Big Techs. Essa dependência não apenas fragiliza a atuação política autônoma, como também reforça desigualdades estruturais no acesso à informação e na formação da opinião pública.

    O Problema da Dependência Algorítmica

    Vivemos em um mundo onde o fluxo de informações é determinado por algoritmos controlados por empresas privadas com interesses próprios. Cada cidadão é exposto a uma realidade personalizada, o que fragmenta o debate público e enfraquece os pilares da democracia. O caso da Meta ilustra como decisões estratégicas dessas corporações podem moldar, direta ou indiretamente, as percepções políticas de milhões de pessoas.
    Quando as forças políticas constroem suas estratégias exclusivamente em plataformas dessas corporações, encontram-se na situação de “construir um castelo em terras alheias”. Esse castelo, que simboliza toda a infraestrutura de comunicação e engajamento, está sujeito às regras e interesses do “dono das terras” – as Big Techs. Isso significa que mudanças de algoritmos, novas políticas de monetização ou decisões empresariais podem alterar o alcance das campanhas, invisibilizar mensagens importantes ou até interromper completamente o acesso ao público. 

    Atualmente, mandatos parlamentares progressistas, entidades e organizações da sociedade civil são pressionados pela dinâmica propositalmente caótica das redes sociais, investindo recursos financeiros e humanos em esforços incessantes para se comunicar com um público cada vez mais disperso. Por isso, construir e manter bases de dados próprias e ferramentas de comunicação independentes é uma tarefa essencial para garantir que a comunicação política seja resiliente e não refém de plataformas externas, estabelecendo um fluxo de comunicação sem a intermediação das Big Techs.

    A Estratégia de Dados e a Construção de Autonomia

    Para o campo democrático, a construção de autonomia digital não é apenas estratégica, mas vital. Isso significa investir na criação de bases de dados próprias, ferramentas independentes de comunicação e redes de engajamento que não dependam exclusivamente das Big Techs. Isso permite maior controle sobre os dados, a comunicação e, sobretudo, a narrativa política. Trata-se não apenas de uma tática emergencial para manter relevância política em meio às incertezas envolvendo as principais ferramentas de comunicação digital, mas também de uma opção política de enfrentamento concreto ao domínio de empresas estrangeiras que declararam guerra à soberania nacional do Brasil e dos demais países do mundo.

    A ideia não é abandonar as grandes plataformas de maneira impulsiva e isolada, mas reduzir a dependência delas, utilizando-as como pontos de contato com seus usuários e não como pilares estratégicos. A metáfora do castelo nos orienta a consolidar uma fortaleza própria, enquanto usamos os “reinos alheios” como ferramentas secundárias.

    Regulamentação Democrática das Big Techs

    Por outro lado, não basta construir autonomia; é fundamental lutar por regulamentação democrática dessas corporações. As big techs exercem hoje um poder quase soberano, influenciando eleições, moldando debates e decidindo quem e o que será visto. Isso é incompatível com os valores democráticos.

    Regulamentar não significa censurar ou controlar conteúdo, mas garantir transparência nos critérios algorítmicos, impor limites ao uso de dados pessoais, reverter a concentração econômica e assegurar equilíbrio na distribuição de informações. É preciso que a legislação proteja o direito à informação como um bem público, acima dos interesses privados dessas corporações.

    Uma Luta Necessária

    A autonomia das forças políticas e a regulamentação das big techs não são questões isoladas; são elementos centrais para a preservação da democracia em tempos digitais. Somente assim será possível combater a fragmentação da realidade, fortalecer o campo democrático e construir um ambiente político mais justo e equilibrado.

    Naturalmente, a extrema-direita está organizada para lutar contra qualquer forma de regulamentação democrática das plataformas digitais. A mensagem de Zuckerberg também teve o objetivo de convocar aqueles que mais se beneficiam do caos e da desinformação no ambiente digital: os antidemocratas.

    Os recentes movimentos da Meta são uma declaração de guerra à democracia, aos direitos humanos e ao debate público calcado na verdade dos fatos. É hora de reforçar nossas estratégias de defesa e ataque, construir nossas fortalezas informacionais e lutar por um ambiente digital onde a democracia prevaleça sobre os interesses privados de poucos.